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Cr​ô​nicas Do Sub​ú​rbio - Original Soundtrack

by Falador

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1.
Meu amor, meu amor, não minta pra mim! Suas histórias não parecem reais E o povo tá comentando, espalhando por aí que você anda cheirando demais Por favor, por favor não duvide de mim, essas histórias por aqui são normais O horror, o horror. Eu sou mesmo um pé rapado, como quem vem daqui, já nasci tão derrotado São casas frágeis à beira da estrada e a vizinhança festeja tão embriagada As crianças dançando, peladas, todos vão se divertindo à beira do abismo Um rio de esgoto, sujeira, detritos, em meio a miséria sobram sorrisos Conversa fiada, 'zuada' na igreja. Essa é rua onde vivo, ó lá que beleza! E ali bem do lado uma imagem oposta: um prédio enorme onde um homem ostenta influência portenha, um certo mau gosto, glock no estojo, pingente de ouro Já foi polícia, hoje ganha sua vida emprestando tostões pra quem não tem malícia Lá escritório, guarda no armário cartões de salário, o seu toque de midas Joga baralho com meu barbeiro este aí que sonhava com uma bela motinha Juntou sua grana, um ano apertado, só ovo com arroz e trabalho dobrado Achou uma dafra, já tava rodada, era o que ele queria, pagou a quantia No dia seguinte, parado numa blitz notou que a moto era mula do crime Uma noite inteira na delegacia úmida, escura, suja e vazia Pela manhã, tomando cachaça, o boteco inteiro era só zombaria Surtou com risos, brigou com o cosme, depois do xilique lhe ataram num poste Meu amor, meu amor não minta pra mim! É tudo muito desvairado, surreal Pois o povo tá reclamando, falando por aí que aqui nem todo mundo é marginal Claro tem vidas inteiras que são tão formais, trabalham de segunda a sexta como meros mortais E tem muito pobre de direita, mas tá tudo bem, grande parte dessa gente não faz mal a ninguém Este é o meu debacle, é a vida que eu vivo, submundo qual faço parte, está cravado o meu destino Entre vermes, crentes e loucos sou apenas mais um fracassado. Juntos até que somos bem poucos. E os traficantes que compram fiado?! Um caso à parte, andando descalços, falta vintém até pr'um carlton E entram guerra, ruins de mira, errando até bala perdida, Na alvorada com suas armas em gritaria, mó agonia, Fogo nos carros, uma pataquada, delirium tremens de cocaína Morre um inocente, mal a gente sente, se há um lamento, é só outro dia Lembro de uma vez que mataram uma menina aos quatro anos, foram os tiras Uma noite tranquila e de dentro do carro o soldado escolheu atirar para o alto, Apesar da repulsa comunitária ele ainda mantém sua ronda diária Este é o meu debacle, é a minha vida e o meu rumo, submundo qual faço parte, meu projeto de futuro Meu amor, meu amor, não finja pra mim! Você parece uma pessoa banal Pois o povo tá ruminando, buzinando por aí, você não fala essas coisas por mal Tem todo tipo de gente ordinária e habitual Um galera decente, até evangélicos legais Jovens delinquentes, um tantinho de amor Se espera uma vida perfeita, até tem, mas acabou E o precariado no corre dobrado, tentando aguentar até o próximo mês E os encostados vivendo de bicos, só planejam uns pingados para o gole das três As meninas da rifa, bate perna diário pra somar uns trocados, 4 dezenas por 6 O carro do ovo que foi assaltado, menos 4 caixas e o prejuízo de 100 Como diz rimbaud: Ocê que imagina bichos urrando de dor Ocê que imagina os mortos e suas quimeras, Tente narrar o meu sono e tente narrar a minha queda Ou nem tente, nem tente. Eu não me sinto batendo na porta do céu A minha vida até aqui tem sido linda, tão mágica, tão “cem anos de solidão from hell” Evidente, é evidente que o escárnio é pra manter a minha mente sã Não acordamos todo dia em guerrilha, mas é tão doce o cheiro de napalm pela manhã Não temos do que nos orgulhar pois a vida é uma farsa e todos têm que representar. Nosso povo é raro, sangue frio, imperturbável, aproveita o momento E transforma qualquer tragédia num espetáculo 6h da matina, defunto no carro, estrangeiro afirma O sangue parece mentira A desventura é um estado, como um amigo me disse: - esse país é tão triste, nascemos no lugar errado Ao meio dia o shihan quebra cocos, canta canções singelas para sua musa mirela Seu irmão malhado tem nas mãos uns nuntchakos, meio jean claude van dame feat. Mark dacasco Ás 19 um jacaré na arapuca, sequer se move, amarrado na nuca A rua é festa a torto e a direito, batuque no ônibus, o bicho com medo Tudo aqui é assim...sei que você não acha essa vida ruim É que as palavras não me são fiéis Meus comparsas, brincando ou não, me chamam, sempre que podem, de borra-papéis Mas eu tento, eu tento, eu me esforço para ser um bom menestrel Ignoro os fatos e o que for mentira, espalho. Se não posso fazer direito, logo avacalho. Não exagero, mas deixo o gore, “um país sem miséria é um país sem folclore! O que vamos mostrar para esses gringos?” Ouvi num filme do sganzela quando era menino Hoje sou um perdedor, desgraçado e sem dinheiro Rindo das nossas mazelas como um bom brasileiro Um escrevinhador, um poeta de araque Quero fazer toadas, mas acho, é tarde Ouço por essas bandas concerto de vozes e daqui eu não saio sem tu escutar Minha canção que é uma rua onde o meu bem não passa, lugar sinuoso no qual só Toca um canto assombrado, superestimado, procuro escusas e afirmo: Se a criação fosse minha deixava escondida, mas como num é, eu confirmo e Canto sem vaidade, sem medo do blues porque quando estou nu qualquer roupa me cabe Então berro esse som, erro no tom, tem texto demais vou tentar justapor Para tampar um buraco abri uma cratera e ela tá louca, canção besta-fera No fim da cantiga, entrando em declínio, cê pode supor volto pro meu amor Meu amor, desista de mim, tu não percebe o quanto eu canto mal Pois o povo tá me ofendendo, hateando por aí. Já entendi, não sou um cara legal Meu amor, meu amor, encerremos por aqui. Já falastes coisas sérias demais E o povo tá ameaçando, avisando coisa e tal, ocê não fala essas coisas Porque falador passa mal
2.
Tão linda as aranhas Tão belas e ternas Pois caem do teto E não quebram as pernas Caem, caem, caem Explode o alarme rasgando o ouvido. Afogo na insônia, olho para o infinito, Observo no teto inseto seboso, repousa na teia (ô bicho horroroso!) Eu viro pro lado, a esposa acordada, levanto em silêncio com a cara amarrada Casado, com filhos, já de meia idade, com um vicio maldito que não mais disfarço Abro a geladeira, então tomo um trago da cerveja gelada. Pronto pro embate! E a mulher se irrita, me chama de escória e pragueja a deus: - um dia vou simbora Não tenho dinheiro, metal precioso que abre sorrisos e alegra o povo Vou e tomo o meu banho, a água gelada rebate a ressaca. (mas essa desgraçada...) Dou casa, comida e roupa lavada. Ela me bate e me xinga toda madrugada A danada me paga (não é hoje o dia), na segunda feira lhe faço uma surpresa Eu ganho no bicho, galo na cabeça e ela fica me devendo mais um mês de feira Hoje o corre é outro. Em débito com o agiota, corda no pescoço e a faca nas minhas costas Até pago certinho (vai todo salário), só que a 30%, os juros ficam pesados Sei, não sou babaca! Descolo um ferro emprestado pelo carioca lá do térreo Ouço um ruìdo, meu parceiro chega buzinando numa pop 0350 Monto na garupa (no pé da ladeira) com sangue no olho e a faca na caveira. A mulher estranha por causa do horário, bota olho gordo pra dar tudo errado. Lá no bar da esquina a gente toma um gole, um tiro no banheiro, prontos para o corre Dois cabra numa moto, o medo de assalto, a gente chega pertinho, assim eu falo bem baixo: Perdeu 'essamenina', passa o celular Não quero a sua carteira, nem pense em gritar! “meu celular tava novo, todo perfeitinho Pois limpava e guardava com muito carinho Não é um iphone, é o que deu pra comprar, Ainda faltam 9 meses pra mainha quitar” Olha que dia lindo, que tranquilidade, quinhentão no bolso sem dificuldades E me sinto o rambo batendo em milico. A adrenalina sobe, hoje que eu fico rico! Pois ainda tá pouco, 'vamo' lá em ondina, Mais dois desse novo e a gente encerra o dia. 'vamo' pela orla, apreciando a vista. Bem no cruzamento um carro de 'puliça'! (foi o olho gordo! Essa mulher me paga...) O sentido aranha alerta o meu parça, ele acelera a pop, sai desembestado, Mas os 'homi' é esperto e 'samo' atropelado. E o mundo gira, eu de pé pro alto ouço um estampido e o parça quica no asfalto... Meu capacete voa da caixa craniana, o celular se perde, então começa o drama... Tão linda as aranhas Tão belas e ternas Pois caem do teto E não quebram as pernas Eu caio, levanto, estou sem sapato, corro como um louco, nem olho pra trás Ali na minha frente o parça toma um tiro, ouço mais dois 'papoco' E corro um bocadinho mais Quebro na viela, a viatura para, pulo um muro baixo, Um cachorro desgraçado morde uma das minha pernas, rasga minha calça (essa mulher me paga, é hoje que me livro dela) Cai, cai...não vou Despisto os 'puliça'. Então, eu chego em casa, ainda são oito horas, ponho minha farda Meto uns band aid na carne rasgada e rezo pra que tenham vacinado o vira lata Ainda vou pro trabalho, é na zona norte e se der sorte, chego no horário Mas meu otimismo é tão idiota! Aqui na minha porta, encontro um sujeito brabo... Ele é capoeira, me dà um martelo, um rabo de arraia, uma tapa na minha cara Cadê minha grana? Você é safado, Não me faz de otário ou eu mesmo venho e te mato! O agiota é zica, mas ele tem cuidado porque defunto novo não paga combinado Sim, chego atrasado, meu chefe reclama e me xinga com carinho, gentileza e cuidado Eu esquento a chapa, tomo mais birita, tá bem escondia Start na rotina: Faço pão com ovo, um x burguer top, suco de laranja, cajá, caju, limão... Sirvo um pequeno, com bastante açúcar, o cliente fala: Quer me matá, fila da... Ele tem diabetes, repara no meu bafo, acha um absurdo, reclama com o patrão Que me dá um esporro, fica preocupado e me xinga com carinho, gentileza e cuidado Eu vou para os fundos e acendo um beck. No vapor barato, penso no meu parça... Será que tá morto? Ó meu deus! Quem me dera... Mortos são tão gratos, esquecem bem depressa Te peço minha santinha: Se tu me livra dessa, vou em aparecida e pago uma promessa Então um rato para e me olha torto, como se dissesse: Irmão tu é um escroto Mas rato não fala, dou-lhe uma bicuda, apago a prensada e volto pra minha chapa. Um menor com ovo, um burger gorduroso, carne mal passada... Embala pra levar Um egg salada, açaí no pote, sorvete de creme... Sodexo pra pagar O dia não passa, zé povin que come, arrota e reclama Cafézin pra requentar Eu aqui bem tenso, ninguém dá notícia. Eu oro em silêncio, vendo a chapa esfriar: Oro pelos filhos, oro para santos Oro pelos amigos, o parça eu vou pular Oro pelo dog, oro pela sorte Oro pela família, deixa a agourenta lá No fim do expediente passo no boteco, tomo mais gole até a perna sangrar Dentro da farmácia, cato um esparadrapo: Ô iago me libera que depois te pago... Na fila do caixa, um jovem do meu lado grita: Isso é um assalto! Ninguém entende nada. Todo mundo tenso, cara assustada, não percebe o fato, a arma tá sem bala... Mas que bicho otário, fico 'chei' de ódio, dou-lhe um sopapo, começo a brigar Ele é tão franzino, a clientela corre, ouço um estampido...e tinha outro brother! Contra a prateleira me 'esbagaço' todo e o murro acerta bem na quina do meu rosto, levanto zonzo, não sou capoeira, mas gingo o meu corpo (ginga presepeira) Minha sorte grande é que os parça são frouxos, correm assustados, empurrando o povo Iago entra correndo, diz: Muito obrigado, mas o prejuízo foi pior que o assalto... E o melhor de tudo è que este safado ainda se recusa a me vender fiado Tão linda as aranhas Tão belas e ternas Pois caem do teto E não quebram as pernas Na subida do morro, paro prum jogo, marco no tablet: sim, sim mais empate, Vitória do íbis, do inter de lages, derrota do barça, 2 a 1 pro parma E assim distraído olhando pra casa, para minha surpresa: (essa mulher me paga) É o carioca saindo pela porta, sorrisão na cara... (essa mulher me paga) Ainda na rua, eu cruzo ele, cara mais lavada... (essa mulher me paga) Ele me cobra a arma, mudo de assunto, ele fica puto... (essa mulher paga) Na sala de casa, ela me olha sonsa, ainda de toalha... (essa mulher me paga) Eu ainda pergunto: Tem algum recado? Ela se assusta com o sangue na minha calça, meu dente quebrado... (essa mulher me paga) Pega água com açúcar, me deita na cama e me limpa com carinho gentileza e cuidado Cai...cai... Esboça um sorriso, lábios no ouvido, sussurra baixinho, diz que me ama em 7 línguas distintas : Je taime, monamour, t´stimo my vida, ti amo querido, ich liebe dich, and i love you, seni seviyorum Beija minha boca, não fala nada, mas não lhe perdôo Não sou borra-botas, não aturo desaforo, muito a contragosto eu me entrego à recaída As costas doloridas, o corpo ardendo em brasa, ela não diz uma palavra e eu acredito nas mentiras. Beija minha boca, não fala nada. Pelado na cama, mulher já cochila, eu olho pra cima, trincado na insônia O sangue do olho desceu pra virilha, vejo a aranha e penso na minha vida Segunda bem cedo vou jogar no bicho, urso na cabeça e mudo meu destino A danada me paga (não é hoje o dia), eu olho pra aranha e sinto empatia Tão linda as aranhas Tão belas e ternas Pois caem do teto E não quebram as pernas
3.
E se a vida fosse mesmo esse mar de rosas que você posta todo dia e ninguém se importa?! E se essa felicidade fosse só disfarce?! Seria tarde para admitir nossa derrota?! Tá tudo bem! Aos trancos e barrancos, mas vai tudo bem, fizemos uns mil planos completamos cem. Deixa a vida assim tranquila como está... Tá tudo bem, nós temos um cachorro que nos faz refém O chamamos de 'surrado' e ele não enxerga bem. Deixa a vida assim tranquila e devagar... Estou aqui em estilhaços pra você reconstruir Me faltam páthos e motivos pra existir E os meus retalhos sempre cortam suas mãos Põe a coleira em mim, Que os meus olhos descascados não conseguem ver Põe seus cadarços que é pr'eu desaparecer, Enquanto ôce compra cigarros, uns 'quemados' e um real de pão Tu põe no streaming o belchior, canta que o novo sempre vem! Não sou o mesmo, aquele que era há uns bons anos. Estou arruinado, antiquado, um decano A nossa vida já foi pior, o maior problema é o fim do mês Quem me cobra nunca fica impressionado com seus poucos likes, selfies, posts, comentários E me calo e tu fala o que quiser falar Estou tão cansado, tão confuso, sem forças pra lidar Então eu vou sair, comprar comida pro cão, não tô muito a fim de discutir Essa relação tem me deixado chinfrim. Sabemos, o mal sempre vence no fim. Assim nos ensinou os grandes mestres do horror. Não precisa gastar seu parco latim. Também peço que engula a sua opinião enquanto eu passeio com seu cão Te agradeço, obrigado por fuder minha vida e me desculpe por ter sido tão sincero e amigo Eu não ligo se debocha e ri do meu do sarcasmo, com certeza não é pior que todo o seu cinismo Tá tudo bem, pensando por aí e veja só você: a nossa vida se converte em um belo clichê. E clichês são bons porque insistem em funcionar Tá tudo bem, pois somos só adultos, sóbrios e educados Um bate boca, agora, só me soa exagerado. Deixa a nossa vida simples, insular. Voltei, peço desculpas pra ti. Eu, talvez, nem seja esse cara tão ruim Acordamos tão estranhos e emburrados. Um anticlímax cinematogràfico E bem aqui tudo termina fútil e frágil (assim que começou!) Se é o fim, por que não me avisastes antes? Aí de mim, sou um babaca postulante a dom quixote de cervantes E se um dia já fui seu xodó, hoje apenas um zé ninguém Pensar que eu quase esqueci de onde vinha, mudei minhas roupas, as manias, as revistas Tentamos tanto não complicar. Rodamos, rodamos e não saímos do lugar Se pra alguém tem uma hora que acaba para outro teima em ser a hora errada Ouça agora o que eu digo, veja bem como eu me sinto: Sou um cão arrependido, sou um “quaseantinarciso”, amor. Virei persona non grata na minha casa. O que eu posso fazer?! E tu diz com o dedo em riste: Todos tem dias difíceis! Ocê finge acreditar ou acredita de verdade? Amor. Eu não tenho essa coragem de lhe perguntar... Eu só queria um coração que não desmanche sem razão Vê esse lar cheio de culpa. Somos pessoas tão malucas? Tu quebra a louça na sala de estar. Mas hoje é dia de brigar? Nem sei como é que eu consigo ficar aqui parado pra te ouvir. E me diz do que tem medo? Não entendo, estou surpreso Já perdi outras pessoas, mas nenhuma desse jeito Acho, nunca fui sacana, mas isso já não importa Quais os nosso predicados? (se somos natureza morta) Vamos acordar, é manhã de domingo, ocê vai reclamar das dores que anda sentindo É só um resfriado, coriza, febre alta. Cê vai me olhar de um jeito tão esquisito Lavamos a roupa, conversamos coisas loucas. Eu faço piada e tu até cai no riso Mas cada um de nòs já fez sua escolha, foi-se o tempo em que era a mesma coisa Ocê sempre se fecha, constrói seus muros e em 5 minutos desaba o mundo Tão lindo quanto um breu Mesmo se eu gritasse com deus, dias depois tu vai tá tão longe (onde será que ocê foi?) Diz que ainda gosta de mim, mas não consegue ser feliz E pretende experimentar o que não teve o prazer de descobrir Não vá contra sua vontade, não me venda essa imagem... Autopiedade não combina com o seu sorriso Apesar de ser um amor implodido, eu te digo, pode crer: Nossa história é tão volátil. Incontroverso e autoritário, Me apaixonei por alguns minutos e até foi bom, foi muito útil Dei por mim, uns anos passaram! Me sinto febril, mas não há ato falho: Abre a porta, a janela, pega uns copos, garrafa d'agua, eu varro a louça, Respira fundo, faz carinho no vira-lata Se machuca ôce, pare com isso, por favor, pare com isso Estamos combinados. Esse é o fim, decretemos feriado E foi muito triste juntamos nossos cacos porque esquecemos: O amor vem sempre em pedaços...
4.
O meu coração é nordestino e desde bem menino sonha em ser um cantador Confesso, ele nem é tão profundo pra espalhar por esse mundo melodias sobre o amor E na construção do meu espírito, um tempero bizantino foi mais forte que o sazón Sempre pareceu o meu destino: uma vida oca de sentido por nunca ter tido um dom E quebrei todas as promessas, ninguém se importou Sequer tenho inimigos! Eu sou tão pequeno, sou tão pequeno Persona tão cinzenta, ponto de inflexão Faço escolhas tão erradas, sempre. Não sou tão esperto, não sou esperto Se de vez em quando acerto, logo dou com os burros n'água Este é um dos meus talentos: escolho mal minhas palavras Se o mundo é tão pequeno, me mantenho preso em casa pra fugir dos seus discursos, pra não rir dessas piadas. Eu não sou esperto, sou tão pequeno, tímido e vulgar Não faço muitos planos para não ter como falhar O meu coração é um cretino,mas não vai ganhar no grito as tratativas sobre a dor Sabe vive numa sociedade onde a individualidade não altera o seu flow E não acredita na verdade pois assiste em toda parte um mundo cheio de razões Até mantém a fé na humanidade, mas aqui do seu cantinho cisma em fazer canções E miseravelmente, falha na sua missão. Textos longos, incoerentes, pois eu sou um tédio, sou um tédio. Uma persona tão cinzenta. O meu id, uma ilusão A contradição em termos: eu não tenho ego, não tenho ego Eu não quero olhar pra dentro... E se estiver tão bagunçado? Pode ser só arrogância, sinto meus traumas controlados Sei, em momentos sucessivos me enrosco no sagrado Não aprendo com meus erros, não me desculpo por esses pecados que já nem me lembro! Eu sou tão raso, tímido e vulgar. Não faço sacrifícios, nem vou me martirizar Meu raciocínio nem é difícil: eu sou cínico e vulgar E até tenho meus princípios, mas quem vai levar à sério?! Tão deletério! Eu sou um peso tímido e vulgar Faço tudo do mesmo jeito, sem interesse em mudar Pois não vejo um problema no imperfeito, estou satisfeito e mantenho os meus olhos presos no fim dos tempos, não aguardo um prêmio. Eu não tenho forças pra voar. Eu não tenho forças pra voar O meu coração não é divino e com esse ceticismo, não cabe religião Mas ele não pensa duas vezes, diante da dificuldade logo vem uma oração: Ó minha santinha, Dai-me forças nesta vida pra seguir em desacerto, Limpa todas as feridas, me alimenta de amargura pois eu sei, a vida é dura E com tantos pesadelos não preciso mais sonhar Santidade torta, ilumina meus excessos Vil, bastarda, mosca morta. Te canto em vinho, prosa e verso Tu és feita de pau oco. Gosto, louvo e reconheço Mas não leve a ferro e fogo os porões do meu desejo Peço não me abandone, não me abra os caminhos No prazer da ignorância, eu sei, não ando mais sozinho Com meus parceiros de derrota te elevo em romaria Na fé, na força e na certeza de que amanhã é um novo dia Ó minha santinha, rainha do desespero Não desenterre o meu passado Tranca todos os meus segredos Cala os cães da minha memória Fecha a conta e passa uma régua Que te acendo um vela e mando oferenda pra beira do mar E se o mar virar sertão? Sertão desidratado Trocando os pés pelas minhas mãos me mantenho estagnado Meu coração é delirante, vivendo acossado Vendo o sucesso tão distante, tão longe que nem acho O amor que sai pelo ladrão. - me sinto tão exausto Fulgor, medo, ambição, passível de maus tratos E o desconsolo é abundante, não muda de status Me sinto feio, inoperante, tolo e ordinário E eu não aprumo o passo, tô sempre tão atrasado. Acho o mundo apertado Se me encontro do outro lado tomando uma cerveja, parece que tô errado E se eu vou pra igreja, tô dobrando o erro Percebo que a vida não cabe num relicário ando até apreensivo e um tanto entediado Que depois dessa folia, me sentindo abençoado, te chamo para dançar Todos meus amigos são campeões em tudo. Eu fui tantas vezes mau, cruel, risível, absurdo. Tenho sido submisso, caricato, petulante Verifico duas vezes: todo mundo é tão importante?! Sem vergonhas financeiras, com sucesso, bom salário Eu na hora do engasgo, tomo empréstimo e não pago Meus amigos são tão nobres, nunca foram uns covardes São homens iluminados com caráter inviolável Toda gente que eu conheço, e que vem falar comigo, Nunca fez um enxovalho ou cometeu ato mesquinho Não confessam um pecado e nem mesmo uma infâmia Quem me dera ouvir verdades de uma voz que fosse humana E com todo desconforto não me rendo aos anseios Não sou eu que vivo errado, a vida é o próprio erro Pense, cale, sofra, grita, engane, eduque, a vida é linda Coma, cuspa, durma. Impassível, sei que a vida é terrível Acuda, massageie o ego, saiba que viver é verbo Ria, etc. coisa e tal, chegando ao fim, acaba tudo em carnaval Copie, chore, mate, morra, ore, vibre, se comova Culpe, aposte, minta, tussa, aprecie, nade, se confunda Seja leve e me aperte ou me evite, seja livre Morda, obedeça ou reaja, colha, brilhe e esqueça Desocupe e alcance, atualize, afronte ou se canse Se defina, se supere, falhe, inspire e revele-se Observe, encare o mal, traia, tema. Acaba tudo em carnaval

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Falador ganha sua vida vendendo seda para traficantes, cigarro para menores de idade, bonés falsificados e grampos de cabelo para as senhoras da igreja. E no meio disso tudo ele gravou um álbum, seu primeiro e único.

Crônicas do Subúrbio é a trilha sonora de um livro homônimo que nunca será lançado, é a tentativa de fazer um país caber numa canção. Um disco que busca uma sonoridade orgânica e tropicalista parida das entranhas da segunda maior favela de Salvador.

É possível ouvir as canções no Bandcamp e no Youtube, não foi disponibilizado nas outras plataformas de streaming por conta dos tramites burocráticos. E não há mais energia, tempo, dinheiro, interesse e ambição para agilizar isso.

Todas as histórias contidas nesse disco são reais, absurdamente reais.

credits

released February 25, 2022

Música & Letras por: Falador
Gravado no Estúdio Caverna do Som
Produzido, Mixado e Masterizado por Irmão Carlos

Falador: Voz, Violão e Synth
Jorge Solovera: Teclados
Sidnei Rasta Santos: Bateria
Alan DuGrave: Baixo
Fagner Primo: Percussão e backing vocals

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Falador BA, Brazil

Falador viveu essas experiências em Salvador, BA

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