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Tão linda as aranhas
Tão belas e ternas
Pois caem do teto
E não quebram as pernas
Caem, caem, caem

Explode o alarme rasgando o ouvido. Afogo na insônia, olho para o infinito,
Observo no teto inseto seboso, repousa na teia (ô bicho horroroso!)
Eu viro pro lado, a esposa acordada, levanto em silêncio com a cara amarrada
Casado, com filhos, já de meia idade, com um vicio maldito que não mais disfarço
Abro a geladeira, então tomo um trago da cerveja gelada. Pronto pro embate!
E a mulher se irrita, me chama de escória e pragueja a deus:
- um dia vou simbora
Não tenho dinheiro, metal precioso que abre sorrisos e alegra o povo

Vou e tomo o meu banho, a água gelada rebate a ressaca. (mas essa desgraçada...)
Dou casa, comida e roupa lavada. Ela me bate e me xinga toda madrugada
A danada me paga (não é hoje o dia), na segunda feira lhe faço uma surpresa
Eu ganho no bicho, galo na cabeça e ela fica me devendo mais um mês de feira

Hoje o corre é outro. Em débito com o agiota, corda no pescoço e a faca nas minhas costas
Até pago certinho (vai todo salário), só que a 30%, os juros ficam pesados

Sei, não sou babaca! Descolo um ferro emprestado pelo carioca lá do térreo
Ouço um ruìdo, meu parceiro chega buzinando numa pop 0350
Monto na garupa (no pé da ladeira) com sangue no olho e a faca na caveira.

A mulher estranha por causa do horário, bota olho gordo pra dar tudo errado.
Lá no bar da esquina a gente toma um gole, um tiro no banheiro, prontos para o corre

Dois cabra numa moto, o medo de assalto, a gente chega pertinho, assim eu falo bem baixo:
Perdeu 'essamenina', passa o celular
Não quero a sua carteira, nem pense em gritar!

“meu celular tava novo, todo perfeitinho
Pois limpava e guardava com muito carinho
Não é um iphone, é o que deu pra comprar,
Ainda faltam 9 meses pra mainha quitar”

Olha que dia lindo, que tranquilidade, quinhentão no bolso sem dificuldades
E me sinto o rambo batendo em milico. A adrenalina sobe, hoje que eu fico rico!

Pois ainda tá pouco, 'vamo' lá em ondina,
Mais dois desse novo e a gente encerra o dia.
'vamo' pela orla, apreciando a vista.

Bem no cruzamento um carro de 'puliça'!

(foi o olho gordo! Essa mulher me paga...)
O sentido aranha alerta o meu parça, ele acelera a pop, sai desembestado,
Mas os 'homi' é esperto e 'samo' atropelado.

E o mundo gira, eu de pé pro alto ouço um estampido e o parça quica no asfalto...
Meu capacete voa da caixa craniana, o celular se perde, então começa o drama...



Tão linda as aranhas
Tão belas e ternas
Pois caem do teto
E não quebram as pernas

Eu caio, levanto, estou sem sapato, corro como um louco, nem olho pra trás
Ali na minha frente o parça toma um tiro, ouço mais dois 'papoco'
E corro um bocadinho mais
Quebro na viela, a viatura para, pulo um muro baixo,
Um cachorro desgraçado morde uma das minha pernas, rasga minha calça
(essa mulher me paga, é hoje que me livro dela)

Cai, cai...não vou

Despisto os 'puliça'. Então, eu chego em casa, ainda são oito horas, ponho minha farda
Meto uns band aid na carne rasgada e rezo pra que tenham vacinado o vira lata
Ainda vou pro trabalho, é na zona norte e se der sorte, chego no horário
Mas meu otimismo é tão idiota! Aqui na minha porta, encontro um sujeito brabo...
Ele é capoeira, me dà um martelo, um rabo de arraia, uma tapa na minha cara

Cadê minha grana? Você é safado,
Não me faz de otário ou eu mesmo venho e te mato!

O agiota é zica, mas ele tem cuidado porque defunto novo não paga combinado
Sim, chego atrasado, meu chefe reclama e me xinga com carinho, gentileza e cuidado

Eu esquento a chapa, tomo mais birita, tá bem escondia
Start na rotina:
Faço pão com ovo, um x burguer top, suco de laranja, cajá, caju, limão...

Sirvo um pequeno, com bastante açúcar, o cliente fala:
Quer me matá, fila da...
Ele tem diabetes, repara no meu bafo, acha um absurdo, reclama com o patrão
Que me dá um esporro, fica preocupado e me xinga com carinho, gentileza e cuidado

Eu vou para os fundos e acendo um beck. No vapor barato, penso no meu parça...
Será que tá morto? Ó meu deus! Quem me dera...
Mortos são tão gratos, esquecem bem depressa
Te peço minha santinha:
Se tu me livra dessa, vou em aparecida e pago uma promessa
Então um rato para e me olha torto, como se dissesse:
Irmão tu é um escroto
Mas rato não fala, dou-lhe uma bicuda, apago a prensada e volto pra minha chapa.

Um menor com ovo, um burger gorduroso, carne mal passada...
Embala pra levar
Um egg salada, açaí no pote, sorvete de creme...
Sodexo pra pagar
O dia não passa, zé povin que come, arrota e reclama
Cafézin pra requentar
Eu aqui bem tenso, ninguém dá notícia. Eu oro em silêncio, vendo a chapa esfriar:

Oro pelos filhos, oro para santos
Oro pelos amigos, o parça eu vou pular
Oro pelo dog, oro pela sorte
Oro pela família, deixa a agourenta lá
No fim do expediente passo no boteco, tomo mais gole até a perna sangrar

Dentro da farmácia, cato um esparadrapo:
Ô iago me libera que depois te pago...
Na fila do caixa, um jovem do meu lado grita:
Isso é um assalto!
Ninguém entende nada.
Todo mundo tenso, cara assustada, não percebe o fato, a arma tá sem bala...

Mas que bicho otário, fico 'chei' de ódio, dou-lhe um sopapo, começo a brigar
Ele é tão franzino, a clientela corre, ouço um estampido...e tinha outro brother!

Contra a prateleira me 'esbagaço' todo e o murro acerta bem na quina do meu rosto, levanto zonzo, não sou capoeira, mas gingo o meu corpo (ginga presepeira)
Minha sorte grande é que os parça são frouxos, correm assustados, empurrando o povo
Iago entra correndo, diz:
Muito obrigado, mas o prejuízo foi pior que o assalto...
E o melhor de tudo è que este safado ainda se recusa a me vender fiado

Tão linda as aranhas
Tão belas e ternas
Pois caem do teto
E não quebram as pernas

Na subida do morro, paro prum jogo, marco no tablet: sim, sim mais empate,
Vitória do íbis, do inter de lages, derrota do barça, 2 a 1 pro parma

E assim distraído olhando pra casa, para minha surpresa: (essa mulher me paga)
É o carioca saindo pela porta, sorrisão na cara... (essa mulher me paga)
Ainda na rua, eu cruzo ele, cara mais lavada... (essa mulher me paga)
Ele me cobra a arma, mudo de assunto, ele fica puto... (essa mulher paga)
Na sala de casa, ela me olha sonsa, ainda de toalha... (essa mulher me paga)
Eu ainda pergunto:
Tem algum recado?
Ela se assusta com o sangue na minha calça, meu dente quebrado...
(essa mulher me paga)
Pega água com açúcar, me deita na cama e me limpa com carinho gentileza e cuidado
Cai...cai...
Esboça um sorriso, lábios no ouvido, sussurra baixinho, diz que me ama em 7 línguas distintas :
Je taime, monamour, t´stimo my vida, ti amo querido, ich liebe dich, and i love you, seni seviyorum
Beija minha boca, não fala nada, mas não lhe perdôo

Não sou borra-botas, não aturo desaforo, muito a contragosto eu me entrego à recaída
As costas doloridas, o corpo ardendo em brasa, ela não diz uma palavra e eu acredito nas mentiras. Beija minha boca, não fala nada.

Pelado na cama, mulher já cochila, eu olho pra cima, trincado na insônia
O sangue do olho desceu pra virilha, vejo a aranha e penso na minha vida
Segunda bem cedo vou jogar no bicho, urso na cabeça e mudo meu destino
A danada me paga (não é hoje o dia), eu olho pra aranha e sinto empatia

Tão linda as aranhas
Tão belas e ternas
Pois caem do teto
E não quebram as pernas

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Falador BA, Brazil

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